Conte, nas horas mais abandonadas da
vida, quando o olhar, vagando em derreador, só divisar deserto.
Conte comigo, mesmo sem vontade de
contar com ninguém ou certo de que não vale a pena contar com mais ninguém,
nesta vida.
Conte comigo, devagarinho, deixando
que a boa vontade vá dizendo, sem nada forçar, à medida em que acreditar.
Conte, durante as agonias, que, de um
tempo para cá, não deixam em paz seu cansado coração, pois o bom da vida
consiste em encontrar um amigo.
Conte, nas horas inesperadas, quando
as tempestades despregam repentinas e tombam por cima da sua cabeça triste.
Conte comigo, para reaprender a
cantar, durante a vida, e a viver de serenas e pequeninas felicidades.
Conte comigo, para eu ajudá-lo a ter
rosto bom e quieto, ao menos na presença dos filhinhos menores, que vivem dos
rostos abertos.
Conte, para auxiliá-lo no amargo
carregamento da cruz.
Conte comigo, para ficar sabendo, de
experiência, que há na vida muita coisa linda, coisa escondida, prêmio de quem
se venceu na dor.
Conte, para triunfar, no ritmo
vagaroso do dever, na cadência da paz diária, aprendendo a teimar com as teimas
da vida madrasta.
Conte, que são largos os caminhos da
vida, esperando os passos duplos de dois amigos que vão, na direção da
conversa.
Conte comigo, para saber olhar ao
alto, buscando a face de um Pai.
Conte, mesmo para não se entregar aos
desânimos e desencantos, de quem anda cheia da vida, do começo ao fim.
Conte comigo, que venceremos juntos,
anjo da guarda com seu pupilo.
Conte, que a vida tem ser bela,
criando nós as belezas, de dentro para fora, obrigação do coração, missão da
Fé.
Conte comigo, conte sempre, teimando
com você mesmo, que não quer saber de mais nada, ofendido que foi, descrente
que anda.
Conte quando, olhando para a frente,
não sente vontade de andar; olhando para trás, tem medo do caminho que andou.
Conte comigo, para que tenha valor e
beleza cada passo seu, cada dia da vida, cada hora dentro de cada dia.
Conte, conte mesmo, sabendo que Deus
me deu a missão de fazer companhia aos desacompanhados corações dos homens.
Allan Kardec
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