Quando queremos
dizer que alguém é ardiloso, astuto ou pérfido, costumamos dizer que é maquiavélico.
O adjetivo não é nada lisonjeiro, mas o responsável por ele é um dos filósofos
mais importantes da história da filosofia política. Niccolò Maquiavel
(1469-1527) nasceu em Florença, na época do Renascimento.
Como sabemos, o
Renascimento foi um período de intensa renovação. Caracterizou-se por um
movimento intelectual baseado na recuperação dos valores e modelos da
Antigüidade greco-romana, contrapondo-os à tradição medieval ou adaptando-os a
ela. O Renascimento referiu-se não apenas às artes plásticas, a arquitetura e
as letras, mas também à organização política e econômica da sociedade.
O Príncipe
Durante o período
medieval, o poder político era concebido como presente divino. Os teólogos
elaboraram suas teorias políticas baseados nas escrituras sagradas e no direito
romano. No período do Renascimento, os clássicos gregos e latinos passaram a
lastrear o pensamento político. Maquiavel, no entanto, elaborou uma teoria
política totalmente inédita, fundamentada na prática e na experiência concreta.
"O
Príncipe" sintetiza o pensamento político de Maquiavel. A obra foi escrita
durante algumas semanas, em 1513, durante o exílio de Maquiavel, que tinha sido
banido de Florença, acusado de conspirar contra o governo. Mas só foi publicada
em 1532, cinco anos depois da morte do autor.
Como tinha sido
diplomata e homem de estado, Maquiavel conhecia bem os mecanismos e os
instrumentos de poder. O que temos em "O Príncipe" é uma análise
lúcida e cortante do poder político, visto por dentro e de perto.
Os fins justificam
os meios
A Europa passava
então por grandes transformações. Uma nova classe social, a burguesia
comercial, buscava espaço político junto à nobreza, ao mesmo tempo em que
assistia a um movimento de centralização do poder que daria origem aos Estados
absolutistas (Portugal, Espanha, França e Inglaterra).
Em "O
Príncipe" (palavra que designa todos os governantes), a política não é
vista mais através de um fundamento exterior a ela própria (como Deus, a razão
ou a natureza), mas sim como uma atividade humana. O que move a política,
segundo Maquiavel, é a luta pela conquista e pela manutenção do poder.
A primeira leitura
que se fez dos escritos de Maquiavel tomou o livro como um manual de conselhos
práticos aos governantes. A premissa de que "os fins justificam os
meios" (frase que não é de Maquiavel, no entanto) passou a nortear a
compreensão da obra. Daí a reputação de maquiavélico dada ao governante sem
escrúpulos.
O pensamento
político contemporâneo
"O Príncipe"
tem um estilo elegante e direto. Suas partes são bem organizadas, tanto na
apresentação quanto na distribuição dos temas. O procedimento principal do
narrador é comparar experiências históricas com fatos contemporâneos, a fim de
analisar as sociedades e a política. Em algumas passagens, o próprio autor se
torna personagem das situações que descreve.
Podemos dividir a
obra política de Maquiavel em quatro partes: classificação dos Estados; como
conquistar e conservar os Estados; análise do papel dos militares e conselhos
aos políticos para manutenção do poder. Dizemos que Maquiavel é o fundador do
pensamento político contemporâneo, pois foi o primeiro a pintar os fatos
"como realmente são" e não mais "como deveriam ser".
Além de "O
Príncipe", Maquiavel deixou outras obras, como o "Discurso sobre a
Primeira Década de Tito Lívio", "A Arte da Guerra" e
"Histórias Florentinas". Deixou também uma peça de teatro, "A
Mandrágora", que se tornou um clássico do repertório teatral de todos os
tempos.
Fonte UOL Educação
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